quarta-feira, 30 de março de 2011

Entrevista - Fabinho Silva

Dando continuidade em nossa seção de entrevistas, conversamos com Fabinho Silva. Conheça um pouco mais sobre a vida e pensamentos deste músico da nova geração da música cristã brasileira!


MPB SantoFale-nos um pouco sobre o Fabinho Silva.
Fabinho Silva - Venho de família evangélica tradicional, presbiterianos de longa data, ativos nas suas comunidades, e cresci no ABC Paulista. Gosto de musica desde sempre. Na dúvida entre ser médico ou músico, fui parar num colégio tecnico e depois numa faculdade de Engenharia - e hoje trabalho com sistemas de RH, já que pensava em me formar teologo... Em 1995 casei com a Debora Camargo, e temos dois filhos: Gustavo e Lorena. Frequentamos a Comunidade de Jesus em SBC há pouco mais de um ano, mas recentemente mudamos pra Atibaia-SP, e agora é hora de novos ajustes na nossa caminhada.

MPBSQuem são suas inspirações na música e na fé?
FS - Graças a Deus, bebi em excelentes fontes musicais toda a minha infância, tanto em casa quanto na igreja. Em casa, eu tinha livre acesso a varios discos de musica classica e canto coral (corais Top como o dos Mormons americanos). Ainda em casa, discos de MPB faziam a minha cabeça... em especial um do Roberto Carlos e outro Compact com musicas do Lupicinio Rodrigues.
Na igreja, os hinos classicos e as cantatas de Natal, e as varias oportunidades de fazer parte dos coraizinhos infantis.
Minha irmã mais velha começou a trazer discos e fitas pra casa, e então Vencedores por Cristo (VPC), Elo e Jovens da Verdade (JV) vieram fazer parte da minha vida pra sempre. Os conjuntos de mocidade daquele inicio dos anos 1980 replicavam esses grupos, pra desgosto dos líderes mais velhos...
Nessa época conheci o heavy metal, e ouvia rock até queimar os altos falantes, junto com a MPB que tocava nas rádios.
Teve dois episódios inspiradores. Em 1985, ganhei os discos "MILAD 1" e "Pescador". A reação foi "Nossa, isso parece música popular". E foi quando eu decidi que queria tocar violão como esse tal de João Alexandre. E depois, em 1987, conheci em Goiânia o Expresso Luz e o Essência , e aí tudo mudou mesmo... foi o ano em que defini meu estilo como compositor, embevecido de MPB.
Além da musica, eu lia muito, todo tipo de livro, e isso me ajudava a escolher as palavras pras letras das músicas que escrevia.
A música na infância e adolescencia foi fundamental pra contrabalancear as tragédias pessoais, como a perda do meu pai quando eu tinha 7 anos.
Tive grandes professoras na escola dominical. Minha mãe foi uma delas, e a outra foi a Alice. O que plantaram, ficou, bem firme. O modelo missionário do MILAD, VPC e JV, abnegado, despretencioso, contextualizado, esses foram meus grandes inspiradores na fé e caminhada que seguiu-se daí por diante. Teve um tempo em que estudei muito da telogia reformada, e aprendi muito com grandes pensadores da Reforma Protestante.

MPBS - Como foram seus primeiros passos como músico e como está atualmente?
FS - Quando tinha 9 ou 10 anos já escrevia minhas canções, mas ainda não tocava um instrumento (eu fazia aula de piano, mas era um péssimo aluno, em todos os sentidos...). Aos 12, pedi e ganhei um violão, que aprendi a tocar sozinho. O violão é o meu instrumento companheiro até hoje. De violão na mão e uma facilidade pra escrever rimas, saí fazendo as primeiras musicas mais serias e outras nem tanto (eu escrevi esse rock durante um sermão: "O pastor pregou / de nada adiantou / eu continuo o mesmo depravadão!").
Aprendi tocar violão tirando as musicas dos discos do MILAD, Logos e VPC ou do rádio. Usava também livrinhos de cifras, mas só aprendi a ler ou escrever cifras muitos anos depois...
No final dos anos 1980, com a cumplicidade de dois amigos, fundamos e refundamos várias bandinhas de igreja, com nomes diferentes. Já em 1990 fui tocar num grupo de uma IPB em Santo André, que tinha um nome pomposo, mas ficou mesmo conhecido pelo apelido "Cabeceira". Tocamos em escolas, igrejas, festivais, até meados de 1994.
Durante esse tempo, eu também tocava no grupo de louvor da minha igreja. Foi o período em que escrevi a maioria das minhas músicas.
Fiquei sem compor de 1995 a 2006, e sem tocar boa parte desse período.
Mas em 2006 a Débora me convenceu a ir ao Som do Céu, evento anual da MPC em Belo Horizonte. Deus me deu outra chance aí no Som do Ceu... saí do evento com ganas de compor, e com a idéia de fazer finalmente um disco autoral.
Saí pra tocar várias vezes desde então, pra mostrar minhas composições, principalmente em igrejas, na maioria das vezes sozinho, algumas outras com a ajuda de músicos bons.
Hoje estou fazendo uma revisão geral dos metodos e motivações que me levam a tocar ou compor. É importante dar um tempo pra organizar nossa vida familiar, profissional e espiritual. É preciso se achegar a Deus, tirar o barulho da cabeça, ouvir dele algum sussurro...

MPBS - As músicas que você ouve têm influenciado no gosto musical de seus filhos, você acha importante os pais terem essa preocupação com seus filhos? Você teve alguma influência quando era criança?
FS - Nossos filhos são serezinhos independentes, que tem gostos e idéias próprias. Os meus estão sendo bombardeados todos os dias pela música pop comercial pra adolescentes (por exemplo, High School Music). E ouvem os louvores enlatados nas igrejas. Impossível impedir essa exposição e a preferência deles, mas aí a gente usa a "música-antídoto", que purifica os ouvidos e apura o gosto - eu acredito na força da boa música... então eles ouvem também Jazz, Blues, Rock, MPB. Ouvem Chico, Edu Lobo, Frank Sinatra, Gladir Cabral, João Alexandre e Gerson Borges... eu fui influenciado pra caramba, conforme falei um pouco acima, porque cresci num ambiente que amava a música, e a música boa.
Sei de gente que abomina a música popular, e tenta dar aos filhos doses maciças e exclusivas de "gospel"... é gente bem intencionada, mas eu jamais farei isso com meus filhos.

MPBS - Você participou de vários festivais, sempre ganhando prêmios, conte-nos um pouco sobre esta experiência.
FS - Então, essa é uma coisa engraçada... eu nunca achei que ia ganhar nada, embora eu goste muito da minha própria música. Na verdade, fui premiado em 3 festivais (e você estava lá com a gente em dois...). O primeiro festival, em 2006, foi o motivador pra gravar o CD. Eu sempre esperei dos festivais uma oportunidade de divulgação das minhas músicas e de ser reconhecido como compositor. Em parte, isso até aconteceu. Guardo boas lembranças...

MPBS - Seu CD "Raíz Duma Terra Seca" é muito elogiado e você contou com várias participações expressivas, conte-nos como foi produzir este CD e quem participou.
FS - Gravar num disco estava nos meus planos desde os anos 1990... naquela época tentei VPC, mas muito timidamente. Mas acho que a principal diferença entre os anos 1990 e 2007 foi ter os recursos pra fazer sozinho. A produção musical foi do Sérgio Pereira & Marivone Lobo (Baixo&Voz). Conheci o B&V no Som do Céu/2006, e nosso primeiro contato foi pra fazer o arranjo da música "Confissao" pro FestFusa em 2006. Depois disso, só combinamos de incluir mais 11 no repertório e fazer finalmente um disco. Eu não tinha a menor idéia de como fazer, por isso deixei tudo com o Serjão.
Na época, conheci dois caras do ABC na lista MMC (Música e Músicos Cristãos): Eliezer Venâncio e Elly Aguiar. Esses caras me aconselharam sem dó, sem dourar a pílula, e me avisaram das decepções que viriam... O Carlinhos Veiga também foi importante, com uma série de sugestões e conselhos e - acredito - oração.
Fazer o CD foi muito divertido. Conhecer um monte de músicos foi fantástico. Aqueles caras que existiam só nos encartes dos discos ali, na sua frente em carne e osso... foi legal demais. Sem falar no João Alexandre... aquele do disco de 1985 que mudou minha vida. O João é um cara sensacional. Só estando lá no estúdio com ele pra saber.
Aí vai a listinha dos participantes:
- Produção Musical / Arranjos: Sergio Pereira e Marivone Lobo (baixoevoz.com.br)
- Direção Musical: Sergio Pereira e João Alexandre
- Mixagem e Masterização: João Alexandre
- Arte e gráfica: Cleber Gossi (tu mesmo!) e Eliezer Muzel
- Estúdios: Voz&Violão de Paulínia (João Alexandre), 0dB Estudio de Goiânia (Olemir Candido), Mastering - Estúdio de Brasília (Paulinho Moreno), VMP de São Bernardo do Campo (Vagner Roberto) e Estúdio B&V (do Sergio&Mari)
- Vozes: Débora Camargo, Fabinho Silva, Eliézer Venâncio, Marivone Lobo, Cíntia Scola, Silvia Mendonça, Carlinhos Veiga, Stênio Marcius, Tiago Vianna, Índio Mesquita, Glauber Plaça.
- Baixos: Sérgio Pereira
- Guitarras: Elly Aguiar
- Violões: João Alexandre, Silvestre Kuhlmann e Fabinho Silva
- Teclados: Felipe Silveira e Fernando Merlino
- Bateria: Ramon Montagner e Osmário Marinho
- Percussão: Magrão
- Flauta e Sax: Hilquias Alves
- Viola Caipira: Diego Silva
- Acordeon: Enos Marcelino
- Oboé: Heleodoro Moraes
- Violinos: Aramis Rocha e Robson Rocha
- Viola: José Eduardo D'almeida
- Cello: Cristina Geraldini
- Gaita: Calvino Loureiro

MPBS - Você vem de uma família que tem o lado doutrinário e bíblico muito forte, sua mãe Eunice é muito conhecida no Brasil inteiro como secretária executiva da SAF (Sociedade Auxiliadora Feminina), seu cunhado Geraldo é pastor na Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, seu primo Wilson Neto também é pastor presbiteriano e você mesmo foi por alguns anos professor de escola dominical. Este laço doutrinário teve influência em sua música? Você acha importante o músico cristão ter esta preocupação com a Bíblia e com a doutrina?
FS - A minha maior preocupação sempre foi que minhas músicas fossem biblicamente consistentes, que eu não fosse um cantador de heresias, e na maioria das vezes compunha com a Bíblia do lado. Daí muitas vezes ter escrito uma canção depois de uma aula da EBD ou de um sermão. Mas ainda assim passei a maior parte da vida separando as minhas proprias músicas, umas de Deus e outras do mundo... o que foi um erro, na minha opinião... hoje entendo que essa divisão é enganosa - porque ou tudo o que você faz é consistente biblicamente, mesmo que for chorar o fora que você levou da namorada, ou então você ainda não entendeu o que é ser cristão. Eu não entendia mesmo. As músicas pra namoradas ou paqueras não entravam no rol das composições sérias, não estavam no caderninho, não iam ser gravadas nunca. Hoje, me dedico a escrever MPB biblicamente consistente... o que significa que mesmo que a palavra "Deus" não apareça numa música, que ela retrate os valores do Reino, o ser cristão e ser humano ao mesmo tempo.
Acho que qualquer cristão, seja ele músico ou não, deve buscar conhecer a Biblia profundamente, a fim de refletir esse conhecimento no seu trabalho e vida. Quando o músico se dedica a escrever louvores e músicas de tema explicitamente cristãos, isso é ainda mais importante. É o mesmo que pregar sem conhecer. Aposto que tanta música cheia de abobrinha doutrinária prospera por aí porque os crentes não conhecem nada de Biblia... e com facilidade engolem qualquer coisa. Mas tem um risco nesse negócio: o compositor pode ser levado a escrever somente cancões doutrinárias, deixando a poesia de lado em nome da pureza doutrinária. Ou, pior, pode confundir conteudo biblico com a doutrina da denominação e aí vira música-propaganda...

MPBSVocê sempre participa, mesmo que como ouvinte, de eventos cristãos como Som do Céu e Nossa Música Brasileira; você acha que participar destes eventos é importante para o músico cristão? Por quê?
FS - No mínimo, pra ouvir musica boa, conhecer gente do meio, aprender coisas novas, receber carga nova de ânimo e disposição pro serviço... Mas esses eventos que você citou tem algo mais: pessoas que fizeram a história da música cristã no Brasil também frequentam, ao lado de outras pessoas que estão escrevendo os novos capitulos. Esses eventos promovem encontro de gerações. Num desses Som do Ceu vi o Aristeu Pires Jr tocando com o Nelson Bomilcar, sentei numa roda de violão com o Jorge Rehder, e conheci a moçada do Crombie. Algumas outras iniciativas do tipo existem em menor escala e com alcance mais regional (como o Sarau da Comuna em SBC). Quando posso, vou. O Nossa Música Brasileira, por exemplo: foram 4 edições, estive em todas...

MPBS - Você diz que o seu forte é compor músicas e não cantá-las e ultimamente andou fazendo algumas parcerias com Gladir Cabral e Bruno Albuquerque; como aconteceram estas parcerias? Tem outras parcerias?
FS - De fato... estou em busca de intérpretes pras minhas músicas... minha "presença de palco" é sofrível, por insegurança, timidez ou falta de treino (coisa que o Elly Aguiar vive pegando - com razão - no meu pé). De verdade, eu me realizo quando alguem canta uma música minha com gosto, porque realmente a música agradou. Fazer música em parceria é um pouco disso. Essas parcerias mais novas são possíveis graças à internet, que diminui as distâncias - pude conhecer o Gladir e o Bruno nesses eventos tipo Som do Céu - e trocamos melodias e letras por email. Outro dia mandei uma letra pro Elly Aguiar que fez dela um rock fantástico... Também musiquei poesias de amigos ou conhecidos, o que é um tipo de parceria diferente, pois as poesias não esperavam virar música. Mês passado musiquei uma do incrível Isaias Oliveira, sem ele saber... Tem outras letras e melodias minhas voando por aí, esperando um fim, ao mesmo tempo que tenho algumas letras de amigos pras quais ainda não rolou uma música... mas a parceria mais forte é essa com a Débora, já fizemos perto de umas 20 canções juntos.

MPBS - Você já compôs mais de 120 músicas, certo? Já tem repertório para o próximo CD com o título provisório de "cantapalavra" e já está analisando material para um terceiro CD com a produção do Diego Venâncio; conte-nos como estão estes projetos?
FS - Toda semana penso em contar quantas músicas são, mas nunca consigo... "cantapalavra" é um projeto onde juntei 15 músicas, todas textos biblicos literais ou transliterados e "mpbzados", que compus sozinho ou em parceria entre 1984 e 2006, e sairão num CD. Está sendo arranjado pelo Éber Scherrer, que tem a missão de tentar dar uma cara mais contemporânea pra músicas tão velhas... Em paralelo, conversei com o Diego sobre fazer um outro projeto, que ainda não tem forma definida... pode ser outro CD, ou um Musical, ou um DVD, ou sei lá o que...

MPBS - Deixe uma mensagem para os leitores do blog MPB Santo.
FS - Obrigado pela força e continuem sempre prestigiando a boa música cristã feita no Brasil!

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